segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Como falar da morte?

Ontem foi aniversário de minha mãe, Maria. Ela fez 76 anos e não queria comemorar pois ontem também completava um ano do enterro da mãe da minha mãe, vó Severina.
Mas estávamos em São Paulo e houve algo de festivo, como uma serenata, como já falei aqui.
Em dado momneto mamãe falou: "Já estou na reta final". E uma amiga disse: "Estamos na reta final desde que nascemos".
E é aí onde quero chegar.
O nascer, a vida, está muito perto da morte. Ao darmos à luz um ser, estamos trazendo ao mundo alguém finito, estamos entregando a ele também a inexorável realidade da morte, que virá um dia.
As mães sentem súbido medo da morte ao se tornarem mães. Irem e deixar os filhos. Os filhos irem primeiro e deixarem uma mãe viver algo que vai de encontro às leis da natureza, como costumam dizer nessas ocasiões.
A gente põe alguém no mundo e tem pela frente o futuro. Imaginamos como será, quem será, o que pensará. Imaginamos nossa participação nos melhores momentos, nas conquistas, nas vitórias.
Imaginamos ver, sentir, acompanhar o filho crescer.
E mesmo com o medo de que não seja assim, de que algo como a morte, atropele o fluxo das nossas vidas, desejamos o melhor.
Eu, talvez de forma egoísta, sempre peço a Deus vida longa à minha Morena e a mim mesma para acompanhar a dela.
Peço que ela possa viver suas etapas todas, com dádiva.
Peço, peço.
Muitos são atendidos nisso.
Meus pais foram. Nós, os seus filhos, também.
Somos 12 e eles tem 56 anos de casados.
Quantas coisas lindas já vivemos juntos? Incontáveis.
Mas nem sempre é assim.
Hoje, ao chegar de viagem e checar meus emails, deparo com uma mensagem que anunciava a morte. Não de uma pessoa. Mas de três. Uma mãe. Um pai, seu esposo. Um bebê, seu filho. Um ano e três meses.
Uma dor lancinante cortou meu corpo de cima a baixo. Um arrepio também. Até o classifiquei como o maior que já tive: em tempo e extensão.
Essa mãe fazia parte do Ishtar, grupo de mulheres que eu sempre cito e do qual faço parte, que buscam o empoderamento, o parto natural, o conhecimento, a maternagem ativa.
Não lembrava muito das mensagens dela, Dani, de Fortaleza. Busquei algumas, outra pessoa enviou o link do blog que ela mantinha. Também assisti a um video na internet, intitulado 'Um ano de Rudá", nascido na água, na sala de casa.
Ela estava apaixonada pelo filho, por ser mãe. Queria viver tudo - inclusive disse ter deixado tudo para viver o filho e a maternidade. Deixou a profissão formal, assumiu outra ligada ao novo universo que quis abarcar.
A ela não foi dado o direito de ver o filho crescer.
Ao filho não foi dado o direito de crescer.
Por que? É claro que nos perguntamos.
Não sabemos e nem saberemos jamais. Algumas crenças apontarão algumas responstas. E é só.
Deles fica algo. Fica muito. Principalmente para os que os conheceram.
Fica a possibilidade que deram a tantos de amar. Fica o tanto amor que receberam.
Foi um tempo intenso, estou certa.
E ela diz em seus escritos: Sou intensa.
Então, valeu!
Que esse tempo por aqui tenha sido de alegrias infindas!
E que a dor de tantos seja transformada.

2 comentários:

  1. Belas palavras, Waleska!
    Também não páro de pensar nessa família que se foi e, também, escrevi no meu blog, desabafando essa angústia que sinto aqui!

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