terça-feira, 31 de agosto de 2010

A ordem é samba e nada mais


Sábado passado o final da tarde foi caindo, Morena dormiu profundo e eu tive uma súbita vontade de fazer uma proposta a Fábio: eu ia no samba do Tartaruga por uma hora, ele ficava com Morena e na volta ele ia.
Negócio fechado.
Coincidiu que Gicarlos, nosso amigo, disse que estava indo se eu queria que ele viesse me buscar. Quando eu disse que sim, ele ficou entre incrédulo e super feliz. Em dois minutos estava aqui e em poucos estávamos lá.
E lá fui eu reencontrar pessoas, fazer um programa que adoro – infelizmente sem Fábio – mas tudo vale a pena se...
Foi engraçado voltar a me arrumar. Tive que ir de sapato pois as unhas estavam uma vergonha (ainda não tinha conseguido ir à manicure até esta segunda-feira) e passei por uma certa crise de identidade ao procurar uma roupa – não queria as de não grávidas, nem as de grávida e tive que fazer um misto das duas para poder sair.
Muita gente se surpreendeu ao me ver pois não sabia se eu ainda estava grávida hahaha se eu tinha parido e, se eu tinha parido o que estava fazendo na rua, como me perguntou uma amiga e enfim, mil reações.


A minha foi de alegria de poder fazer algo que gosto, de poder contar com Fábio para isso e com a calmaria de nossa filha que me dava a certeza de um bom tempo dormindo.
Mas o tempo foi passando e o coração foi apertando. Eu olhava no celular repetidas vezes por segundo. Nenhuma ligação. Mandei um torpedo. Tudo na mais perfeita paz. Neném dormindo, papai tranqüilo, curtindo a casa.
Quando voltei – passei um pouco do tempo estipulado – Fábio tinha desistido. Estava cansado.
Brinquei com ele que perdi o samba todo, então, já que Morena permaneceu dormindo muito depois da minha chegada.
Foi muito bom. Mas que bateu saudade dos dois, isso bateu.

E a vida continua


Buscamos aprender a viver com Morena. Fazer novas rotinas e desfazê-las também. Buscar harmonia, prazer e alegria para além da dura tarefa de cuidar de uma recém-nascida.
Vamos testando apetrechos, conselhos, intuições.
E assim, vamos desfrutando de sling, canguru, cadeirinha de atividades. Fábio adora o canguru e o sling - aliás, só ele usou os dois. Eu vou ficando com os braços mesmo pois ela fica nos meus quando precisa do peito, que só eu tenho e fica mais com o pai quando precisa ser ninada, ouvir uma canção ou me dar um trégua para o banho, para comer ou para ir na rua - fazer as unhas (só consegui depois de 30 dias do seu nascimento), ir ao supermercado, ao dentista, à médica e coisas assim.
Aliás, faço malabarismos para comer - pois tenho uma fome incrível por causa da amamentação e não posso abrir mão de me alimentar pois o laticínio em que me transformei depende desse combustível para alimentar minha principal consumidora.
Como em pé, com a mão esquerda, de colher, com ela no peito forrada com uma fralda ou um pano de prato para evitar respingos. Ai, ai... E o que consigo fazer com os pés? Até eu me surpreendo. Apanho tudo com os dedos, abro caminhos, afe maria, desconhecia esses super poderes.
No último domingo nos esforçamos para conseguir fazer um programinha a três - tomar café da manhã na padaria.
No caminho, fomos a pé, com Morena levada por Fábio no canguru, trocamos a padaria pelo Rappel (aliás, aconselho o programa) e, entre uma mamada e outra, um cochilo dela e outro, conseguimos ficar horas por lá, conversando, lendo jornal e experimentando quase todas as guloseimas disponíveis. Aliás, há tempos eu não comia de forma tão despudorada (na gravidez fiz dieta por causa do diabetes)e nesse dia fui às forras.
Cada aprendizado nosso é uma conquista para nós, para nossa vida familiar. E assim, cada dia é um novo dia.

E assim se passaram 30 dias


Confesso que nos primeiros dias de Morena, no auge dos problemas que tive com a amamentação e, portanto, auge do desespero, minha vontade era ver que o tempo tinha passado. Era saber que tinha ultrapassado aquela fase. Mas parecia que ia demorar muito.
No entanto, neste sábado, 28 de agosto, nossa menina completou seu primeiro mês de vida fora da barriga. E pareceu que o tempo passou num piscar de olhos.
Vivemos tanta coisa, vencemos os primeiros desafios, nos apaixonamos tão fortemente por nossa filha, ela cresceu tanto, engordou, fez exames, viajou, não chora mais no banho, começa a efetivamente conhecer a vida, começou a caber nas roupinhas há poucos dias tão grandes mesmo sendo tamanho recém-nascido.
Ela agora ri, toma seu banho de sol diariamente, dorme tanto, faz tantos barulhinhos, carinhas, boquinhas...E já dorme no seu próprio quarto.
Já conhecemos seus gestos, suas atitudes de medo, o jeito das mãos quando dorme, o barulhinho de cuíca que faz, os gemidos. E quando achamos que já sabemos tudo, ela muda o rumo do seu comportamento e dorme quando era para estar comendo e chora quando era para estar dormindo e cala quando era para estar chorando. Uma caixinha linda de lindas surpresas.
É um sonho bom tê-la conosco e desfrutar de seus momentos. Dá uma saudade dela quando está dormindo que, às vezes, nem consigo descansar de tão ansiosa que fico pelo seu próximo período acordada conosco.

A primeira viagem a gente nunca esquece




Morena nem tinha nascido quando marcamos sua primeira viagem. Para São Paulo. Nossa intenção era que ela conhecesse o avô que não poderia estar em Brasília no seu nascimento.
O dia marcado parecia longe mas, é claro, chegou.
Perguntamos ao médico que aprovou imediatamente a idéia, inclusive minimizando o medo que estávamos do frio em São Paulo naquela semana.
Eu estava amedrontada. Não sou prática e acho que maximizo ou crio problemas, o que queria evitar a todo custo. Assim, tinha medo de transformar o que para alguns é bem simples, viajar com os filhos, em algo cheio de dilemas.
Como receita para as coisas darem certo, procurei ficar calma. Fábio disse que eu só me preocupasse em levar Morena e o resto era com ele. Vitória disse que eu levasse o que estava usando em casa, ou seja, as coisas que realmente precisávamos.
E assim eu fiz. Ela teve sua malinha. Eu e Fábio outra maior que dividimos. Além disso, levamos o carrinho e a cadeirinha de carro.
Na ida, ela dormiu o tempo inteiro. Na decolagem não consegui fazer com que mamasse pois não se interessou por nada que não fosse o seu soninho. Quando descemos em Guarulhos ela mamou - para aliviar a pressão nos ouvidos.
Em São Paulo ela estreou seu visual inverno - toucas e casaquinhos de tricô by Tia Bebel e, para nossa sorte, o frio tinha cedido lugar ao sol e calor e secura e poluição característicos da cidade. Preferi assim.
A apresentação de Morena ao avô e aos demais da família foi emocionante. Mamãe estava também por lá, bem como minha irmã Vânia que mora na Suíça. Robson e a família e Renan, irmãos que moram também na 'Selva de Pedras' completaram o grande encontro e a viagem foi assim - sem contratempos e com muitas alegrias de ver tanta gente querida e poder proporcionar com que todos conhecessem também a nova pessoa das nossas famílias. Recebemos visitas, Morena ganhou presentes e carinho e mesmo com o vovô estando dodói ficamos muito felizes em viver tudo isso.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

E as noites?

Realmente não é fácil cuidar de um bebezinho - principalmente à noite - cuja fama é tão ou mais gravemente acusada de terrível do que a da dor do parto.
Mas concluí que são levianos os comentários a respeito - principalmente de quem não tem filhos. "Nunca mais se vai dormir!" "Aproveite para dormir enquanto o bebê não nasceu!"
Coisas assim. Parecem terrorismo. E os olhos dos interlocutores brilham mais à medida que você tiver histórias mais dramáticas de noites insones.
Na verdade, a gente sente falta. Quando se acumulam umas tantas noites entrecortadas a gente deseja uma inteira de um dormir que passou a ser sonho.
Mas isso - aí está a diferença e a sabiedade da natureza - não é um fardo. Ninguém pensa nisso quando seu filho de poucos dias - portanto, totalmente indefeso, totalmente frágil e dependente dos pais e, principalmente, do leite da mãe, chora de madrugada.
Você só quer dar os cuidados que ele, no nosso caso, ela, pede. Você quer dar amor, carinho, trocar a fralda, dar leite, ninar, cantar, abraçar, se deliciar com as respostas, com aquela vida tão pequenina e tão grande, tão plena, que você mesma criou sem ver e que surgiu prontinha na forma de uma pessoa que precisa de você.
Nossa filha é uma delícia. E esse sabor é o mesmo - seja dia, noite ou madrugada!

Banhozinho de sol

Foi hoje. Em casa estava parecendo quente.
Quando descemos um vento frio, gelado. Ficamos catando umas nesgas de sol, como se pulássemos amarelinha.
Ela estava bem agasalhada e valeu pelo passeio.
Masa como banho de sol, ficou a desejar.
Eram só cinco minutinhos - agora, a partir da terceira semana, até gradativamente chegaram a vinte.
Tomara que, nos próximos, o vento esteja boicotando menos o trabalho do sol.

De como foi, afinal, a primeira consulta

Bom, como julgava ter resolvido o problema da amamentação, estava feliz da vida tendo minha filhota mamando no peito por horas a fio - entre paradinhas, dormitadas e o retorno ao que interessava...
Mas na consulta descobrimos, incrédulos e tristes, que ela não aumentara de peso depois da alta do hospital e, o pior, ainda perdera mais, o que fez o médico se preocupar e propor um 'regime de engorda'. Ela deveria mamar no peito por vinte minutos e depois receber 60 ml de complemento de leite enlatado e voltar ao consultório dali a dois dias, quando deveria ter cumprindo uma meta.
Meu Deus! Nunca imaginei que a notícia de que nossa bebezinha não estava no peso ideal fosse tão massacrante. Logo meus olhos viram a menina desfigurada, triste, abatida. Mas o médico advertiu que o quadro não era esse, que ela estava respondendo bem aos estímulos mas que o normal era o ganho ou retomada de uma curva ascendente de crescimento, o que não estava acontecendo.
Desnecessário dizer que choveram críticas ao tal regime. Como o médico recomendava complemento? Como eu deixava de confiar no meu leite?
Do outro lado, dois pais atônitos. Mas decidimos dar um voto de confiança ao médico. Afinal, ele nos foi bem recomendado e também nos pareceu sensato e competente. Ademais, mamando por três horas ela não estava engordando. Assim, dois dias com leite complementar não haveria de fazer mais mal.
Para nossa alegria, ela só aceitou o complemento por três vezes - mesmo assim, diminuindo gradativamente a quantidade. É bom lembrar que ele foi dado em seringa e não em mamadeira. E, logo, ela estava só no peito.
Na pesagem faltaram apenas 10g para ela cumprir a meta, o que nos deixou radiantes. E ela ganhou nova missão a cumprir, com nova pesagem dali a uma semana.
Essa semana se completou segunda-feira passada, dia 16. E ela, enfim, foi dispensada desse acompanhamento e do regime pois, como diria, engrenou no crescimento. E, o melhor, só com o peito. Passei a dar o complemento como o outro peito mesmo e funcionou.Ela também ficou meio que condicionada aos vinte minutos e já larga o peito em torno desse tempo.
Agora, a gente já sente o pesinho aumentando sobre nossos braços, as roupinhas servindo melhor e as dobrinhas ganhando, enfim, seus recheios.
Morena está linda. Suas carinhas, seus barulhinhos, seu olhar e o jeito como deixa as mãos nos encantam a cada minuto.
Uma delícia tê-la. Agradeço sempre mais a Deus pela dádiva.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

E viva às fadas!!!

Sempre gosto de valorizar quem chamo de ‘fada madrinha’.
Aqui em Brasília já tive algumas. A que me ajudou a conseguir o primeiro emprego, a que me manteve na cidade, a que segurou minha onda em momentos de crise. Enfim, apesar de algumas em situações mais definidas, cada amigo, cada amiga, cada pessoa tem uma missão nas nossas vidas e um passatempo bom é identificar quem é quem.
Na minha gravidez tive uma fada madrinha. É a doula que não participou do parto por ter sido cesárea, mas que esteve comigo desde fevereiro nas sessões de pilates e, consequentemente, nas sessões de conversas, aconselhamentos, entendimentos em uma amizade que foi surgindo e se consolidando.
Passei a admirar fortemente o trabalho e a personalidade dela, Rafaela Rosa. Fisioterapeuta com uma formação super consolidada apesar da idade – acho que tem 28 anos e não tem filhos – como muitos esperam de uma doula. Não precisa.
Digo que parece um mágico tirando coelhos da cartola. Sua serenidade é admirável. Rafa não antecipa nada. Não nos amedronta. Não nos estimula. Ela simplesmente vai acompanhando o nosso processo. Quando surge uma reclamação, uma dúvida, uma dor, um questionamento, lá está com respostas sensatas, com palavras exatas e sem sobras. E com soluções. Realmente admirável. Eu aconselharia a todas as grávidas que procurassem ter o suporte dela – isso para mim fez toda a diferença.
E foi como essa fada madrinha que ela atendeu um telefonema meu desesperado: Rafa, o que faço? Morena não consegue mamar. O peito está jorrando leite. Eu não agüento mais. Como posso ver minha filha chorar de fome e eu cheia de leite? Meu peito está ferido, sangrando. Não suporto mais a dor quando ela tenta mamar. Enquanto ela tenta, eu choro, urro, grito (aliás, nesses momentos Fábio achou uma maneira ótima de me ajudar que foi me massageando – super solidário madrugadas afora).
Rafa, então, me aconselhou a procurar o serviço da enfermeira Beth Tibério. Sei que para alguns pode parecer excesso ou bobagem. Mas não quando se tem um filho com fome e uma mãe atônita, quase atada.
Eu sempre defendi que as pessoas devem ser estimuladas em seu potencial. Se havia uma especialista para isso ela haveria de saber resolver a questão muito melhor que eu, ora bolas.
Enfim, tentei achar Beth no final de semana e não consegui. Meu humor piorava, minha vida se transformou em um horror em que eu queria tudo menos ver minha menina acordada, pois enquanto ela dormia, eu a supunha tranqüila.
Tivemos noites atordoantes e apenas Fábio conseguia acalmar a pequena, me causando uma dependência dele incompatível com esse momento em que ele estava organizando a casa nova.
Por fim, consegui falar com Beth. Ela marcou para o final da tarde, mas ligou antecipando o horário. Eu nem sei o que esperava dela. Mas achei outra fada madrinha. Ela tem, como a tenho descrito, a cara e o jeito daquelas pessoas antigas que supostamente a gente não encontra mais – sábia, carinhosa, divertida, competente.
Beth lavou as mãos, examinou meus peitos, falou, explicou o que acontecia e começou a apertá-los. Ordenhou manualmente sem descanso por uns longos minutos. Tirou de mim dois vidrinhos de colostro – ele estava obstruindo todo o resto, estava como dizem, empedrando aqui dentro, prenunciando um sofrimento ainda maior e mais grave.
Eu novamente urrava enquanto ela tentava me acalmar. Dor. Muita dor.
Depois disso, os seios que estavam duros, embolotados, quase deformados, pareciam nuvens, plumas. A gente sempre acha que peito com leite é aquele que nem se mexe, gigante, duro. Engano. O meu ficou fofinho e dali, por incrível que pareça, é que o leite começou a surgir como petróleo, mais fértil do que nunca.
A mamada de Morena depois que Beth veio me socorrer é algo que eu nunca vou esquecer. Minha filha enfim, se alimentou. Como se estivesse no paraíso. Eu pelo menos estava lá.
A sensação foi de torpor, de felicidade indescritível e maior do mundo. Felicidade. Plena.
O mundo se abriu – se reabriu.
Eu nasci de novo. Penso que Morena também.
Pagamos pelo serviço R$ 150, mas o que ela fez não tem preço.
É muito grave ter alguém que depende de nós para se alimentar e falharmos nessa missão recebendo em troca choros, lágrimas, fome.
Ninguém fala em quão difícil pode ser o processo de amamentação. Fazem suas propagandas do mérito da amamentação exclusiva e abandonam a mulher nessa missão que é tão mais difícil do que parece.
Minhas irmãs me apoiaram demais e foi importante ouvi-las quando a sensação era de fracasso.
Também aconselho que ninguém sofra tanto por isso – nem fisicamente, nem psicologicamente – e que procure, sem vergonha, a ajuda de quem pode realmente ajudar. Amamentar não é brincadeira de criança. E viva à fada Beth! Madrinha da amamentação de nossa pequena!


Texto escrito em 05/08

Visitas no hospital


Receber ou não visitas foi uma pergunta que nos fizemos.
Eu imaginava que não ia querer que ninguém ficasse sabendo antes do nascimento de Morena e não pensava, também, em ninguém no hospital.
Hoje, não sei o que teria sido de nós sem a presença constante de meu irmão Roberto e de sua esposa Maricleide, no quarto 360 do Santa Lúcia.
Quando avisamos do nascimento de Morena, por e-mail enviado por Fábio, também nos disponibilizamos para visitas e muita gente achou estranho e condenável. Outras pessoas aproveitaram o convite e foram lá.
E, confesso, foi a melhor decisão. Muitos amigos foram nos ver e no hospital, ainda com todo o aparato de médicos e enfermeiros, é o melhor lugar para receber as pessoas nesse primeiro momento.
Assim, não me senti só e recebemos amor e carinho das pessoas. Ainda estávamos, eu e Morena, entorpecidas, e nem ficou cansativo falar com todo mundo, oferecer as lembrancinhas e um licor, tirar as fotos de registro (aliás, acho que Renata ficou sem) e ainda pedir que escrevessem mensagens no Livro do Bebê.
Recebemos até meu irmão Ricardo que tinha vindo da Paraíba naquele dia.
Antes da alta o médico nos recomendou um período de, pelo menos 10 dias, sem receber visitas para termos tempo e condições de conhecer nossa filha e ela a nós, estabelecermos nosso dia a dia, entendermos seus sinais.
Outra coisa muito sábia. Ficamos hospedados na casa da minha cunhada por oito dias e e isso ajudou a cumprirmos com calma essa missão do começo. Além do mais, as dificuldades na amamentação requeriam mesmo um período de isolamento.
Agora, estamos nos organizando para poder recomeçar a receber as pessoas e dar um fluxo mais normal à vida.
Já postei algumas imagens do segundo dia de vida de Morena e aqui vão outros registros de pessoas queridas que foram lá nos dar as boas vindas!

Cenas dos primeiros capítulos


Isso é básico.
A gente se coloca diante dos bebês e se queda por ali, olhando cada gesto involuntário com deleite.
Imaginando se era assim que os braços e pernas mexiam ainda dentro da barriga.
Querendo que aquele franzidinho na boca já seja um sorriso efetivo dirigido a nós.
Pensando como esses olhos de cores indefinidamente cinzas vão nos procurar daqui a pouco sabendo o que querem achar.
Já é uma semana. Morena já está conosco há uma semana. Já somos tão íntimos que parece a vida toda – e é. Ela podia ainda estar na barriga e nascer lá pela data provável do parto – 11 de agosto.
Mas ela já está aqui e isso é tão bom...
Seu umbigo caiu ontem.
Ontem também foi seu primeiro cocô depois que saiu do hospital. Aliás, mais esperado do que ele só o meu depois da cirurgia (a sensação de não ter controle sobre o corpo e da barriga cheia de gases que se mexem e não saem dali é terrível).
Já teve as unhas cortadas duas vezes. Agora seu xixi já tem periodicidade normal e tudo isso é motivo de contentamento pra gente que comemora cada coisa dessas como uma grande conquista.
Os brincos postos foram mais comemorados por mim.
Fábio e a madrinha de Morena, irmã dele, fizeram apologia contra o furo. Eu, que na infância vi meu pai furar dezenas de orelhinhas no seu Posto de Enfermagem Manoel Barbosa, não posso imaginar uma menininha sem seus brincos.
E assim foi. Agora ela está tal qual aquele filme ‘A moça do brinco de pérolas’. Lindinha. E ainda bem que eu tinha comprado os brincos poucos dias antes, senão seria mais difícil cumprir a missão com ela com poucos dias de vida ainda e eu sem mobilidade.
Morena também já saiu de casa para fazer o Teste do Pezinho e hoje me acompanhou na revisão do parto. Amanhã ela terá sua primeira consulta. E como isso também é básico, estamos ansiosos para saber da saúde da nossa menina e, claro, se o seu peso já aumentou. Tomara!


Texto escrito em 05/08

Baixem o paninho azul que ela quer ver


Já contei aqui da madrugada que antecedeu a chegada de Morena e o parto cirúrgico.
De manhã, decidimos fazer as últimas fotos da barriga e, subitamente, senti a maior pena pela ausência da minha doula no parto. Aí, liguei para ela cedinho... “Rafa, me explica tudo – estou com medo”.
Ela contou passo a passo tudo o que me aconteceria no hospital – da internação até a chegada ao quarto. Disse que o parto mesmo seria muito rápido e que os pontos levavam mais tempo do que Morena para sair.
Lembrei, também, de improvisar um Plano de Parto ainda antes de sair. Na verdade, o chamei de ‘Planinho de Parto’ pois não era muito extenso e estava organizado em tópicos.
Tomei como exemplo o que havia recebido de uma amiga, alterei dali e daqui e já na mesa lembrei de dizer à médica que havia este documento e que ela o lesse.
Ela leu, me avisou que tinha lido e foi explicando o que, daquilo, já estava acontecendo, como a conversa com o anestesista sobre o tipo de intervenção que estava sendo feita por ele.
Depois da anestesia, senti como se limpassem minha pele com um algodão repetidas vezes. Achei que era isso mesmo que estava acontecendo, mas certamente era o corte sendo feito. Dali a pouco tempo, ouvi a médica dizendo: “Ela quer ver. Baixem o paninho azul que ela quer ver”.
Aí, me deu um medo do que iria ver (sangue, corte) e eu disse: “Não, não é agora que quero ver”.
Mas não tinha mais tempo nem outra coisa a ser vista. O pano foi baixado, minha filha levantada e apresentada a mim.
Nossa, foi tão rápido que me assustei. Por centésimos de segundos não sabia o que fazer. Quem era aquela pequena surgida dos fundos de um tecido azul?
Já com ela no meu colo, entendi. Era minha filha. Minha Morena. Eu havia parido.
Chorei. Fiquei atônita. Devo ter feito um carinho, dado uns cheiros nela. É tão intenso que a memória fica turva. Se não disse ‘Deus te abençoe’, pensei, fiz o pedido. Lembro que mandei o beijo enviado pelo avô que está doente e não pode acompanhar a chegada tão esperada da primeira neta. “Seu avô mandou um beijo, filha”.
E foi a primeira vez que proferi esta palavra “filha” tendo, efetivamente, a minha comigo.
Felicidade!
Nasceu Morena Barbosa Cidrin Gama Alves


Texto escrito em 05/08

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Receitinha para a paz no trânsito

Quando recebemos alta do Hospital Santa Lúcia, na sexta-feira (30), Fábio se apressou em dizer que ele carregaria Morena no colo até o carro.
Nele, o carro, já estava montada a cadeirinha dada por Tia Vitória e foi lá que Morena, toda embrulhadinha, chegou em casa.
Sair do hospital carregando nossa filhota foi daquelas emoções únicas na vida. Roberto ia na frente nos filmando e fotografando, tal qual um paparazzi e eu e Fábio caminhávamos lentamente como se fôssemos o centro das atenções – era assim que eu me sentia e penso que ele também.
É claro que éramos apenas um casal circulando nos corredores de um grande hospital. Mas para nós éramos os pais de Morena levando nossa filha para casa depois de curti-la na barriga por 38 semanas, ou seja, éramos especiais. O momento era especial e tudo era emoção.
Já no trânsito, minha sensação era de: Parem o mundo. Estamos passando com nossa filha.
Cada carro mais veloz, cada ultrapassagem, cada movimento comum do trânsito me dava desespero. Esforçava-me para não ficar dando ‘pitaco’ na direção de Fábio – mas mesmo assim não me contive por algumas vezes.
Eu estava aflita. Íamos devagar e os outros motoristas não podiam entender que nossas razões para isso eram as melhores e maiores – carregávamos o mundo, o amor, a vida toda dentro daquele espaço.
Logo pensei que uma boa razão para a paz no trânsito seria cada motorista experimentar levar para casa pela primeira vez o filho ou filha recém nascida. Ou pelo menos tentar antever essa situação, fingi-la, só para sentir o cuidado, o carinho e a delicadeza que se requer das pessoas num momento assim.
Haveria paz no trânsito – com certeza.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

PARTE I - Na prática como foi a teoria do enxoval

Quem acompanha o blog sabe que sempre cultivei uma espécie de resistência quanto ao enxoval – não sei explicar a razão. Mas talvez para a minha mente pisciana todas aquelas listas das lojas e sites fossem amplas, genéricas e confusas demais. Em não conseguindo decifra-las fui devorada por elas. Algumas coisas eu nem sabia o que significavam como modelitos mijão e pagão.

Outro aspecto que me incomodava era o excessivo consumismo implícito na maternidade ou numa gestação. A gente não faz idéia do que, entre milhares de produtos tão fofinhos, será útil ou pagará o seu valor, na maioria das vezes exorbitante.

Assim, fiz dois Chás de Bebê para tentar passar essa missão aos demais, distribui outras tarefas para mamãe e irmãs e o fato é que Morena nasceu sem que essa parte tenha sido estudada ou planejada.

Apenas na véspera de sua chegada, fazendo a até então assustadora mala do hospital, descobri que ela não tinha tantas roupas tamanho RN assim. Tentei cumprir a quantia solicitada pelo hospital, organizar outros itens e fechei rapidamente a bolsa, como que com medo dela.

Na verdade, como prova de meu marinheirismo de primeira viagem, achava que essa malinha ficava sob os cuidados do hospital e até queria anotar tudo o que estava levando para garantir que viesse de volta.

Não. Ela fica conosco. No quarto. O que permite que continuemos com ela uma relação de intimidade e até que façamos alguns pequenos truques que não faríamos se tivéssemos a certeza de que seriam descobertos por mãos alheias.

Com a mala da mamãe a situação não foi diferente. Mas em compensação, fui comprando as coisas e tive mais acesso a elas do que às roupinhas de Morena que, quando lavadas, ficaram lá guardadinhas.

Agora, passado esse susto, posso avaliar o que deu certo e o que não deu. Na verdade, o tempo no hospital passa rápido. Entrei na quarta, sai na sexta-feira por volta de meio dia. Parte desse tempo estamos anestesiadas, parte grogue e parte sem mobilidade, gemendo, tentando fazer algo como xixi ou soltar um pum.

Assim, levei quatro camisolas. Usei apenas uma. No primeiro dia, estava com a do hospistal, no segundo com a única que usei e no terceiro, já de alta médica, com a roupa de grávida recomendada para a saída do hospital.

As listas mandam levar robe e esse foi um dilema, pois não estava levando nenhum. As camisolas eram de malha, Anny Anny, Sonhart, esses estilos. Mas apenas duas (porque continuei usando as peças em casa de minha cunhada) se mostraram eficazes para a amamentação, seu fim maior – aquelas com um elástico abaixo dos seios pois não ficam soltas e não caem se por acaso a gente se levantar ou fizer um movimento mais brusco. Portanto, não basta que sejam de botão como sugerem as listas.

A chinela, com o qual gastei muita energia, foi útil, sim. Ela é prática, mas não precisa que seja chiquérrima. Basta que nos leve ao banheiro sem que precisemos de muitos movimentos para calçá-la.

PARTE II - Na prática como foi a teoria do enxoval

A cinta. Também um dilema. Tive recomendações para usar Dr. Rey, mas não quis bancar o preço que nem sei qual é, mas imagino alto. Fui na Yoga mas achei também tudo muito caro (às vezes eu sou bem amarrada ou mão de vaca mesmo) e com um material que parecia pouco confortável apesar das vendedoras se unirem em coro para provar o contrário, na Casa Raquel a mesma coisa.

Comprei duas no final. Uma que vi numa loja qualquer em promoção e outra, em farmácia. As duas não somaram R$ 100. Delas, uma funcionou e a outra mostrou-se inútil – pelo menos até agora. E para quem tem dúvida, recomendo, sim, o uso da cinta. Não sei se faz milagres ou nos devolve o corpo de antigamente. Mas tem o fim imediato de amparar a mudança imediata do corpo – depois de cortado e sem o bebê e afins que ficaram por lá por tanto tempo.

No hospital, somos enfaixadas a partir do segundo dia. Vem duas enfermeiras, nos pegam daqui, dali, nos mandam levantar o bumbum e pronto. Viramos uma múmia – o que vai nos fazer muito bem no futuro, dizem.

Já na preparação para a alta nos apertar fica por nossa conta. Elas nos ajudam a vestir nossa própria cinta e pronto. Alias missão que será nossa daí para frente. Assim, o modelo com um zíper é o que aconselho. O outro que comprei, com colchetes, está sem uso. Fechar tudo aquilo e passar o dia tendo que manusear o fechamento para ir ao banheiro se torna impossível ou inviável para nossa condição de ‘operada’, além de ‘mãe’.

O sutiã de amamentação? Sugiro vários modelos. Do que gostar, você manda alguém comprar mais. Quando o leite desce, eles se sujam rapidamente. O que me pareceu melhor é um que fecha e abre em cima, na alça.

Sobre as calcinhas, as listas também recomendam que sejam confortáveis. Não adianta querer comprar modelos apertados. Troquei umas da linha Gestante porque quando fui provar em casa, não passavam nem pelas minhas coxas. Terminei levando para o hospital aquelas estilo vovó, de algodão, e umas do mesmo modelo mas de lycra. As de grávida e outras da Loba também são boas. Elas precisam apenas abarcar com segurança os absorventes – pós parto do hospital e o noturno que passamos a usar. O resto é papel da faixa e/ou da cinta. Assim, não precisa investir em calcinha. É bom levar na mala da mamãe aquelas que usamos quando estamos menstruada, ou sejam, que são firmes e maleáveis ao mesmo tempo.

Nas roupinhas de Morena também cometi erros. A melhor receita é a praticidade. É difícil administrar uma recém-maternidade (medos, aprendizados, novidades, nervosismo, choro de bebê), tendo que abotoar mil coisas, colocar enfeites que não seguram, vestir luvas, sapatos e meias que caem do pé.

As roupinhas tem que ser RN mesmo. Caso contrário, ficam desconfortáveis para o bebê- grandes, caindo, etc. Acho que Morena passou um pouco por isso. As roupinhas ficaram um pouco grandes apesar do tamanho ser para recém-nascido mesmo. Não levei lacinhos e apesar de ter levado bronca das enfermeiras, achei bom. Um dia coloquei uma tiara só para fotos. Ela também ficava grande.

Elas dão banho (exceto o primeiro) no quarto. Nos pedem a roupinha e pronto. O ideal é um body para cada roupa e, para mim, o ideal é que essa roupa seja um macacãozinho super simples e prático. Também precisam de um cueiro para cada troca e da escovinha para pentear os cabelos.

No final, foi tudo mais simples do que eu poderia imaginar. E, por isso mesmo, passei por alguns sufocos.

Vivendo e aprendendo....

domingo, 1 de agosto de 2010

Momentos hospitalares

Ô mãe como seria ter um filho?


Ô Mãe como seria ter um filho?
saber passo a passo da relação
à alegria do parto
cuidado pela fêmea
que a todo nós segura
engravidado por ela
na relação da paixão mais pura
Mãe como seria ter o filho?...

Gonzaguinha


Assistou eu ao parto do meu companheiro Fábio
em um pai belo, que já tem o dom de acalmar seu rebento na sintonia do amor.

Waleska

Homenages recebidas - Para Morena de Georgeta

Morena,

Que você seja feliz. Para isso, é bom começar entendendo algumas coisas que essa tia sexagenária e leonina está aprendendo bem mais velha:

- Tudo é impermanente. Viva com intensidade todas as coisas, todos o momentos, mas saiba que passam. Veja esse passar com docilidade, gratidão, generosidade. Como se fossem borboletas.... A gente não quer ficar com elas....

- Evite separar as coisas entre o "gostar" e não "gostar". Essa divisão causa sofrimento. É meio difícil aprender isso... mas comece com as comidas. Saboreie cada coisa. Aceite o sabor diferente sem desgostar. Experimente. Isso não significa não curtir. É quase como curtir muito todas as coisas.

- Tudo, tudo mesmo, tem seu lado bom e seu lado ruim. Nós,budistas, temos uma palavra para isso - DUCA. Você vai bater a cabeça na quina da mesa. Vai parecer ruim, mas também é bom. Seu cérebro vai entender melhor as mesas.... rsss, e vai ter se exercitado no "aprender". E até a dor.... é impermanente.
Seus pais estão muito felizes, mas vão ter que comprar fraldas, acordar no meio da noite, abrandar suas cólicas.....

- E a lição principal.... faça sempre o bem. Sempre.

Benvinda!!!!.

Homenagens recebidas - Eu sonhei um sonho lindo - Joka Pavaroti

Em dois mil e vinte cinco, Morena fez quinze anos
Rainha da Banda Podre debutava na contra mão
Puxando o enredo do ano “Lula lá de novo Não!”
Sambando pela w3, comandava o novo Pacotão

Cicinho ainda era Filisteu quando Morena nasceu
Tentava ressuscitar o Roriz, que há muito se escafedeu
Paulão lá no Lar dos Velhinhos era o rei da folia geral
Com Soninha ia lá no Café, degustar “aquele” Bacalhau
Ao saber que Brizola morreu, não quis mais brincar carnaval

Eu sonhei um sonho lindo...
Em dois mil e vinte cinco, Morena fez quinze anos
Rainha da Banda Podre debutava na contra mão
Puxando o enredo do ano “Lula lá de novo Não!”
Sambando pela w3, comandava o novo Pacotão

O Bloco Etílico Artrose Reumática
Tem em Joka seu grande compositor
Louco pela musa Ditinha, trinta vezes suicidar-se tentou
Até perderam a conta de quantos celulares o sujeito quebrou

Eu sonhei um sonho lindo...
Em dois mil e vinte cinco, Morena fez quinze anos
Rainha da Banda Podre debutava na contra mão
Puxando o enredo do ano “Lula lá de novo Não!”
Sambando pela w3, comandava o novo Pacotão

Wilson Brother se tornou abstêmio, sinuca não joga mais
Não pede carona, pinga fiado e nem dinheiro emprestado
Pagou a conta no Beira que fez com Bartô, e com Klebinho reconciliou

Ivan Presença, dizem aprendeu tocar a Cuíca, pandeiro e até agogô
E para desespero do Moa, da Aruc é novo diretor
e do Conic é interventor

Eu sonhei um sonho lindo...


Samba homenagem do Pessoal do Pacotão à chegada triunfal de Morena Barbosa, no dia 28de julho de 2010 no barracão do Pacotão

Joka Pavaroti

Homenagens recebidas - ICONOGRAFIA DO NASCIMENTO DE WALESKA - De Tânia Maria de Oliveira


Fui hoje testemunhar o recente nascimento de Waleska.
Foi parida mãe pelos braços de Morena em sua brancura ainda incerta. E as duas parecem se conhecer do tempo em que ainda eram apenas sentidos
e desejos. E ver uma mãe nascer, confesso, não deixa muito espaço para conceitos. É o começo de um tempo de descobertas que palavras podem
ser choros, que passos podem ser o engatinhar, que um riso destrói qualquer argumento, que temos a capacidade de nos tornarmos um ser boquiaberto
diante de outro, que nos nutre e nos ensina um amor de uma dimensão inigualável.
Para além da delicadeza da alegoria da maternidade, nesse dia nascemos de novo para o mundo e esbanjamos ternura, delicadeza e sensibilidade,
tudo em meio às confusões e temores que nos rouba o tempo, nos obriga a noites insones e nos devolve luz.
E crescemos a cada dia, em processos múltiplos que ora nos faz espelhos, ora nos impele a buscar a tradução do mundo. E tudo vira novo: o sentir,
ver, tocar, cheirar, degustar, gozar.
E nos descobrimos metades inteiras, porque uma parte de nós já não nos pertence mais. E antes que me perguntem a resposta é não. Maternidade não
é abrir mão de nossa individualidade. Ela nos dá uma oportunidade única de desafio de uma compreensão alargada sobre nós mesmos e tudo que
comporta o universo ao nosso redor.
Para minha amiga mãe que nasceu ontem, enquanto a lua cheia passeava no céu, roubo descaradamente as palavras do Oswaldo Montenegro e lhe
faço oferenda:
“...que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso
que me lembro ter dado na infância
pois metade de mim é a lembrança do que fui
a outra metade não sei.”
Paz e bem.
Tânia

Textos e fotos: Tânia
Enviado em: 29/07/2010

E, no final, o amor. Somente ele

Morena dorme e aproveito um pouco deste tempo para escrever aqui. São tantas coisas que queria transformar em palavras que já nem sei por onde começar.

Começo por hoje. Conseguimos dar seu banho - ontem não foi possível. Então, tenho que confessar, este foi o primeiro banho de nossa menina por nossas mãos e sob nossos cuidados. Não há registros dele. Não houve o romantismo do 'primeiro banho'. Nem fotografias. Nem filmagem. Só urgência.

Foi tudo meio improvisado porque estamos vivendo meio improvisados. Ainda não tinha contado essa história no blog - estava deixando para quando tivesse terminado e estivéssemos vivendo o final feliz. Mas como esse desfecho está demorando, adianto que estamos em processo de mudança de casa e, portanto, atualmente sem uma.

Morena chegou dia 28, e eu soube que chegaria dia 27. Ela veio correndo, com urgência e o caminhão estava contratado para o dia 30. Essa data permaneceu. Fábio ficou cuidando disso, enquanto derramava lágrimas por não estar conosco e, amigos ajudando, faxineiras com dias extras, mas tudo ainda está em processo.

Não dá para dizer que fomos pegos de surpresa pela data do parto ter sido antecipada. Morena chegaria em nove luas depois da concepção, chegaria provavelmente em 11 de agosto - com as margens de erro. Enfim, por uma série de motivos a mudança ficou para o final do final e estamos sofrendo as consequencias disso que, não chamaria de erro, mas de contingência, de nossa realidade. Enfim, como não dá para voltar no tempo é melhor tentar contornar as coisas da melhor forma.

Ah, voltando para o banho. Então, estamos hospedados na casa da minha cunhada, irmã de Fábio, desde a nossa alta, na sexta-feira. Ela e o marido são os padrinhos de Morena e estão nos recebendo super bem, o apartamento é uma delícia e, por um lado, é um privilégio poder desfrutar dessa estrutura nesse momento. Mas viemos para cá com as malas da maternidade e toda hora descobrimos que falta isso, falta aquilo.

Eu sem mobilidade, Fábio mais por conta da mudança, enfim, já cheguei àquele desespero que você chora, questiona tudo, briga com o marido, quer voltar para a casa da mãe, quer contratar uma estrutura semelhante a do hospital.

Mas repito o mantra 'e também isto passará' e tento recobrar a consciência, a felicidade, a tranquilidade e a certeza de que daremos conta, de que somos capazes de passar por isso sem maiores perdas. Para ninguém.

Para essa certeza nos impele a presença de Morena - a indiazinha, com cabelos pretinhos, olhos grandes, mãos grandes e um monte de barulhinhos e carinhas que a gente não se cansa de se entregar a elas e olhar, olhar, desfrutar e sentir o amor dominando tudo.