quarta-feira, 11 de agosto de 2010

E viva às fadas!!!

Sempre gosto de valorizar quem chamo de ‘fada madrinha’.
Aqui em Brasília já tive algumas. A que me ajudou a conseguir o primeiro emprego, a que me manteve na cidade, a que segurou minha onda em momentos de crise. Enfim, apesar de algumas em situações mais definidas, cada amigo, cada amiga, cada pessoa tem uma missão nas nossas vidas e um passatempo bom é identificar quem é quem.
Na minha gravidez tive uma fada madrinha. É a doula que não participou do parto por ter sido cesárea, mas que esteve comigo desde fevereiro nas sessões de pilates e, consequentemente, nas sessões de conversas, aconselhamentos, entendimentos em uma amizade que foi surgindo e se consolidando.
Passei a admirar fortemente o trabalho e a personalidade dela, Rafaela Rosa. Fisioterapeuta com uma formação super consolidada apesar da idade – acho que tem 28 anos e não tem filhos – como muitos esperam de uma doula. Não precisa.
Digo que parece um mágico tirando coelhos da cartola. Sua serenidade é admirável. Rafa não antecipa nada. Não nos amedronta. Não nos estimula. Ela simplesmente vai acompanhando o nosso processo. Quando surge uma reclamação, uma dúvida, uma dor, um questionamento, lá está com respostas sensatas, com palavras exatas e sem sobras. E com soluções. Realmente admirável. Eu aconselharia a todas as grávidas que procurassem ter o suporte dela – isso para mim fez toda a diferença.
E foi como essa fada madrinha que ela atendeu um telefonema meu desesperado: Rafa, o que faço? Morena não consegue mamar. O peito está jorrando leite. Eu não agüento mais. Como posso ver minha filha chorar de fome e eu cheia de leite? Meu peito está ferido, sangrando. Não suporto mais a dor quando ela tenta mamar. Enquanto ela tenta, eu choro, urro, grito (aliás, nesses momentos Fábio achou uma maneira ótima de me ajudar que foi me massageando – super solidário madrugadas afora).
Rafa, então, me aconselhou a procurar o serviço da enfermeira Beth Tibério. Sei que para alguns pode parecer excesso ou bobagem. Mas não quando se tem um filho com fome e uma mãe atônita, quase atada.
Eu sempre defendi que as pessoas devem ser estimuladas em seu potencial. Se havia uma especialista para isso ela haveria de saber resolver a questão muito melhor que eu, ora bolas.
Enfim, tentei achar Beth no final de semana e não consegui. Meu humor piorava, minha vida se transformou em um horror em que eu queria tudo menos ver minha menina acordada, pois enquanto ela dormia, eu a supunha tranqüila.
Tivemos noites atordoantes e apenas Fábio conseguia acalmar a pequena, me causando uma dependência dele incompatível com esse momento em que ele estava organizando a casa nova.
Por fim, consegui falar com Beth. Ela marcou para o final da tarde, mas ligou antecipando o horário. Eu nem sei o que esperava dela. Mas achei outra fada madrinha. Ela tem, como a tenho descrito, a cara e o jeito daquelas pessoas antigas que supostamente a gente não encontra mais – sábia, carinhosa, divertida, competente.
Beth lavou as mãos, examinou meus peitos, falou, explicou o que acontecia e começou a apertá-los. Ordenhou manualmente sem descanso por uns longos minutos. Tirou de mim dois vidrinhos de colostro – ele estava obstruindo todo o resto, estava como dizem, empedrando aqui dentro, prenunciando um sofrimento ainda maior e mais grave.
Eu novamente urrava enquanto ela tentava me acalmar. Dor. Muita dor.
Depois disso, os seios que estavam duros, embolotados, quase deformados, pareciam nuvens, plumas. A gente sempre acha que peito com leite é aquele que nem se mexe, gigante, duro. Engano. O meu ficou fofinho e dali, por incrível que pareça, é que o leite começou a surgir como petróleo, mais fértil do que nunca.
A mamada de Morena depois que Beth veio me socorrer é algo que eu nunca vou esquecer. Minha filha enfim, se alimentou. Como se estivesse no paraíso. Eu pelo menos estava lá.
A sensação foi de torpor, de felicidade indescritível e maior do mundo. Felicidade. Plena.
O mundo se abriu – se reabriu.
Eu nasci de novo. Penso que Morena também.
Pagamos pelo serviço R$ 150, mas o que ela fez não tem preço.
É muito grave ter alguém que depende de nós para se alimentar e falharmos nessa missão recebendo em troca choros, lágrimas, fome.
Ninguém fala em quão difícil pode ser o processo de amamentação. Fazem suas propagandas do mérito da amamentação exclusiva e abandonam a mulher nessa missão que é tão mais difícil do que parece.
Minhas irmãs me apoiaram demais e foi importante ouvi-las quando a sensação era de fracasso.
Também aconselho que ninguém sofra tanto por isso – nem fisicamente, nem psicologicamente – e que procure, sem vergonha, a ajuda de quem pode realmente ajudar. Amamentar não é brincadeira de criança. E viva à fada Beth! Madrinha da amamentação de nossa pequena!


Texto escrito em 05/08

Um comentário:

  1. Querida, penso em voces todos os dias.
    Que vocês sejam muito felizes!
    beijos no coraçao da familia!

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