segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Ficar grande é chato demais

Essa frase é da música Bicicleta, do meu amigo Eduardo Rangel, também padrinho de romance (minha história com Fábio começou na casa dele, na famosa festa 'Natal dos Desgarrados'). Sempre lembro dela quando o fardo da vida adulta se torna grande, gigante, aparentemente inadministrável.

Hoje é um desses dias em que a frase martela na minha cabeça. Mas os transtornos começaram ontem, domingo, cedinho, quando saia com Fábio e Morena para tomar café da manhã num restaurante perto de casa. Daquele jeito rápido, que a gente não consegue explicar, nem recapitular, quase chegando no carro, torci o pé.

Dor enorme. Depois, dor suportável. Depois, a volta da dor louca e falta de mobilidade. Fui ao hospital, passei três horas lá, tomei duas injeções (um analgésico e um antiinflamatório), fiz um exame, constatei que não havia lesão, tive o pé imobilizado, recebi um atestado de afastamento de três dias e a recomendação para não pôr o pé no chão pelo mesmo período, além de usar muleta e tomar mais três comprimidos.

É claro que não posso me dar ao luxo de apresentar um atestado no meu primeiro trabalho pós-Morena, um frila de duas semanas e também me dar à irresponsabilidade de cuidar da pequena de um jeito que não seja pé no chão, literalmente.

Mas acordei sem tanta dor e conseguindo pisar melhor e isso me animou até receber um telefonema do marido da pessoa que trabalha em casa e está ficando com Morena para que eu também possa trabalhar, avisando que ela mesma estava no hospital, que não iria e não sabia como ficaria a partir dali, se seria hospitalizada e tal.

Eita! O mundo pareceu sumir de baixo de um pé já tão machucado. Pensei: E agora? Acho que as mulheres, as mães ou aquelas recém- mães sabem que a responsabilidade parece ser maior para nós, que temos que vencer barreiras e preconceitos para, além desses papéis, também ocuparmos um no mercado de trabalho, e que não achamos plausível faltar ao trabalho porque nossa cuidadora também faltou.

Se fosse um trabalho fixo, com direitos, que me desse essa oportunidade em troca de oficializadas contrapartidas, mas um frila, em que eu já estou cobrindo o trabalho de alguém que também não está...

E agora? E agora? Ficar grande é chato demais. Ficar grande é chato demais.

Marteladas.

Ligo pra minha antiga diarista. Ela diz que vai ver se pode. Responde algum tempo depois. Não pode. Se eu tivesse avisado com antecedência. Mas qual antecedência, se eu fui pega de surpresa também?

Ligo pra meu irmão. Ele diz que vai ver se pode. Responde algum tempo depois. Não pode. Se eu tivesse avisado com antecedência. Mas qual antecedência, se eu fui pega de surpresa também?

Ligo para Fábio que está viajando. Ele pede que eu fale com a madrinha da pequena e, assim eu fiz.

Ouvi um: Posso!

Ai, o chão voltou ao meu tão machucado pé.

Aproveitei as duas horas que faltavam para eu estar no trabalho para tentar dar uma geral na casa, caótica sempre na segunda-feira, para amamentar, fazer a mala de Morena.

O banho tomei sentada, com a perna direita pendurada para fora, coberta por uma toalha, a pequena tentando entrar no box, chorando, escorregando no chão molhado.

A roupa troquei com ela querendo estar no colo, chorando e gritando a maior parte do tempo, até se distrair.

Cheguei na madrinha com o pé apertado num sapato, com uma mochila nas costas, uma bolsa na mão e a pequena na outra.

Não almocei, não pude aceitar o convite dela para isso.

Sentei com Morena, tirei os brinquedos que levara, expliquei que estava indo trabalhar, pedi um beijo e saí correndo, enquanto ela estava calminha, brincando. Essa foi uma dica que sempre segui. Nunca sair escondida. Sempre dou tchau, explico a razão de estar saindo, quando volto, etc. Sempre deu certo. Nunca vi piti dela por esse motivo.

Cheguei atrasada cinco minutos. Foi duro estacionar.

Sentei na minha cadeira caladinha. Queria contar todos os meus poréns de hoje. Mas pensei que a ética pedia silêncio. Lembrei também de outra frase: Ao notar que tu sorris, todo mundo irá supor que és feliz.

Smile!

P.S.: Bel, você hoje foi (fada)madrinha! Obrigada!

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