quinta-feira, 10 de junho de 2010

No Brasil estar doente, além de desagradável, pode ser muito perigoso

Sempre mantive o hábito de usar bolsas grandes.
Na hora de viajar elas costumam pesar mais que as malas (exagero). Mas é quase isso. Tudo que eu ia esquecendo, tudo que é mais frágil, tudo que acho que vou precisar no avião, entra na bolsa que fica estufada e pesada.
Hoje não foi diferente. Aeroporto de Brasília com destino a São Paulo. Coloco o que estava em mãos para passar na esteira (sempre me certifico de que nada do que ficou no corpo vai apitar - porque apitou na Suíça e a experiência não foi boa. Ter que ir me despindo em língua estrangeira...)
Nada apitou. Mas a moça avisou: "É sua a bolsa? Vou passar de novo".
Passando de novo, ela resolveu chamar os homens de preto.
Eles chegaram, me olharam reiteradamente, me perguntaram por duas vezes se estava só ou acompanhada, olharam ao meu redor enquanto perguntavam isso e, quiseram saber também, se aquela bagagem era minha. Eu disse que não era bagagem, era uma bolsa. Será que tem diferença num contexto de aeroporto? Mas foi a única coisa que me ocorreu dizer naquela hora.
Depois, eles me levaram para uma 'sala de inspeção', onde só havia uma mesa com uma caixa de luvas cirúrgicas em cima.
Enquanto abriam tudo, folheavam cada caderneta, remexiam em cada bolsinha de baton, olhavam minhas comidas diabéticas e meus exames e requisições, eu ligava para Fábio, chorando,lógico.
Eles me fizeram entrar na sala de novo (pois havia saído para telefonar mas continuava vendo a ação do vidro espelhado) e também me viram chorando - o que eu estava tentando evitar.
Fábio perguntou a razão da abordagem e eu disse que não havia sido comunicada sobre ela. Acho que eles entenderam a que me referia pois disseram: "É um procedimento de segurança".
Eu chorava mais. O moço perguntava se eu estava passando mal e me oferecia uma cadeira, enquanto Fábio me perguntava se eu achava que tinha sido vítima de preconceito.
Sinceramente, não sei. Não fui tratada com grosseria. Por outro lado,não houve delicadezas. Mas fiquei pensando que devia estar parecendo uma 'mula', ainda mais propensa a passar despercebida pela gravidez - ou suposta para eles.
Eles me liberaram e eu entrei no avião (fui uma das últimas) em prantos. Odeio chorar quando minha reação devia ser outra.
Uma vez acomodada atinei que o objeto não identificado ou identificado como suspeito na minha bolsa podia ser o kit do aparelho para medir a glicose. Tive ainda mais medo. Outro dia o aposentado foi baleado pelo segurança do banco porque usava um marca-passo.
No Brasil estar doente, além de desagradável, pode ser muito perigoso.

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