terça-feira, 29 de junho de 2010

Entre a viagem e a paisagem

Depois de estar há 34 semanas acompanhando uma paisagem, vem se aproximando o fim da viagem.
Não digo que a gravidez é um processo fácil. Tem muitas, muitas nuances. Muitos detalhes, pormenores. Temos que abdicar, abrir mão, passar por isso e aquilo.
É um tempo longo de mudanças que não se restringe inclusive a 40 semanas, mas abarca uma vida toda. No primeiro momento, as privações circunscrevem o período de amamentação, mas vão apenas mudando de foco e de nome, enquanto abrem outros universos e um mundo de liberdades até então desconhecidas.
Eu nunca preguei a maternidade. E poucas vezes me imaginei sendo mãe. Mas quando conheci Fábio e quase que imediatamente nos unimos, pareceu muito claro que seria mãe com ele, mãe de filho(s) dele e não quis lutar contra isso. Foi natural e logo aconteceu – uma primeira gravidez (um mês depois de estarmos juntos). Perdemos o bebê, mas não nos perdemos nem o rumo da nossa história.
E cá está Morena. Já chegando. Já saindo. Já olhando para nós e ouvindo de perto a voz minha que ela sentiu vibrar e reverberar em seu próprio corpo e, as vozes do mundo que ela aos poucos passou a ouvir, de uma forma ou de outra.
Não gosto de dizer que estou muito ansiosa para que venha. Nem quero me sentir assim. Quero que ela venha em seu tempo e no tempo certo. No meu caso, é importante que se antecipe à cesárea que os médicos querem fazer para evitar que cresça muito.
E o tempo que todo mundo dizia que passaria rápido, passou mesmo. É inacreditável como parece até faltar, mesmo sendo tanto. Agora, quero a prática. Não quero pensar muito em coisas que faltam, em coisas que preciso ter, em pessoas que preciso ser. Quero me organizar com o que está aí e ir, a partir do nascimento, ajustá-las.
É hora de fazer as famosas malas. Falta-me coragem para elas. Talvez estejam prontas em algum lugar da casa. Mas não aprontadas. Não agrupadas.
E o hospital? Talvez também decidido. Mas não queria hospital.
Não queria receber coisas que não conheço, que refuto, que talvez não precise. Não queria entrar em protocolos. Mas é provável que isso aconteça. Só não quero culpar ninguém. Nem a mim mesma. Tive informações. Tive opções. Tive como voltar atrás. Tive como ir para frente. Se as minhas decisões estão sendo tomadas, inclusive pela omissão de decisões, isso também é forma de decidir. E que assim seja.
Não imagino um lugar melhor para parir do que em casa. Como já disse, não compro essa briga com ninguém. Não quero pregar a respeito disso. E não suporto alguns dos argumentos que escuto porque crivados de preconceito e falta de informação.
Eu também não tenho todo o conhecimento do mundo. Apenas um que me serve e que busquei para esse momento. Há uma frase que não lembro muito e que gosto. Acho que é de Leminski e diz que o que importa não é a viagem, mas a paisagem.
Então, o que vi, o que busquei ver, o que aprendi, o que me dei ao direito de sentir e experimentar, tudo isso faz valer muito a pena.
Eu me dediquei a esta gravidez. Passei pelos momentos de fragilidade. Enfrento a doença que saiu derrubando planos.
Ainda quero muita coisa. Quero respeito aos meus quereres. E espero ter isso.
Quanto aos meus quereres para o parto, eles também serão explicitados.
Quem sabe no próximo texto?

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