segunda-feira, 21 de junho de 2010

Descreva a dor em uma palavra

Este foi o convite que recebi no último encontro do Ishtar.
Respondi: Sofrimento.
Mas se ao pedido fosse acrescentada a palavra parto, se o pedido fosse para descrever a dor do parto em uma palavra, eu diria: MISTÉRIO.
Que será isso? Que transformação é essa que acontece em um corpo, em um útero que aguenta tanto por tanto tempo e, de repente, diz que não, que não quer mais um bebê dentro, porque ele está 'maduro' e pronto para sair. E se não for naquela hora, entre tantas horas, tudo pode ir por água abaixo e os nove meses serem perdidos em um titubeio, uma espera a mais, uma crença, um querer.
Depois de nove meses de espera, a urgência. Depois de guardar tanto um alguém no escuro, chega a vez de dar-lhe a luz ou dar-lhe à luz.
E para isso, a dor.
A dor gritada. A dor mordida. A dor que puxa cabelo. A dor que desnorteia. A dor que não respeita e nem é respeitada.
A dor que tantos se empenham em descrever, em decifrar, antecipar, mas que só se dá a conhecer naquele momento. Único, que pode nem se repetir, que é tão intenso, que exige entrega e, dizem, uma viagem astral.
A dor que minha doula prefere deixar claro que é a contração e que causa desconforto. Assim, sai a palavra dor.
E se um livro que li se chama 'Parto sem dor' outro "Parto Ativo" não prescinde da dor para que o parto seja verdadeiro, aconteça de fato.
E a dúvida: é possível um parto sem dor?
O que é a dor do parto?
Como vivê-la?
Como antecipá-la?
Como se preparar para ela?
Como estar civilizada para recebê-la e não ser minada por ela?
São tantas as perguntas. São tantos olhos curiosos. São tantas explicações que não dão conta de explicar.
Tudo é único, é ímpar, é individual.
O certo é que a mulher foi feita para parir. Não é isso? O que provaria que a dor do parto não foi feita para matar. Mas para transformar, como falaram. Para ser transcendida.
Para que toquemos e vejamos pela primeira vez o ser que saiu de nossas entranhas e composto por nós, nada além de nós. Cria da nossa costela.
Dor do parto.
Que seja você contração.
Que seja você desconforto.
Que seja você transformação.
Que transcenda eu, por seu intermédio, e acorde em duas.
Eu e outra.
Eu e uma pessoa nova chamada Morena.

Sobre o encontro do Ishtar em 19/06, acesse:
http://ishtarbrasilia.blogspot.com/2010/06/fotos-do-encontro-19062010.html

Um comentário:

  1. Linda postagem, Waleska!
    Palavras sobre a dor são bem difíceis de serem externalizadas e você, sabiamente, conseguiu falar.

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