quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Pequeno tratado sobre a solidão das mães

Um amigo querido vez por outra toca num assunto: como a nossa turma se comportou e se comporta com Morena, comigo, conosco após o nascimento dela. Ele acha que ninguém pode dizer “que cuti cuti” e pronto. Ele acha que deveria haver mais presença, mais amizade, mais responsabilidade, mais compartilhamento entre todos. Ele acha que terem acompanhado minha gravidez, de estarem na minha vida há anos, alguns, geraria mais compromissos do que dizer “cuti cuti”.
Eu também já achei isso. Mas encontrei meu caminho já, pós-virar mãe. Esse texto é inspirado em um outro, publicado num blog que já citei, o único materno que leio. São tantos, né? Não dá para acompanhar.
Lá a autora fala das queixas de uma amiga sobre a solidão e nos instigava a pensar sobre nossa própria condição, a de cada leitora.
Pois bem. Numa reunião do Ishtar, aqui em Brasília, a pediatra convidada sentenciou: Toda mãe é essencialmente uma solitária.
Essa frase explicou tudo, me deu alento, me deu identidade e me deu a capacidade de ‘me conformar com aquilo que não posso mudar’ e ‘coragem para mudar aquilo que posso’.
Em outro texto, divulgado na lista do Ishtar, recentemente, uma mulher que se tornaria mãe, chama de ‘impostora’ a mulher que tomaria conta dela, após o nascimento de seu filhote.
Pois. A impostura que me dominou me fez passar esses 15 meses (que se completam amanhã), sem uma grande lista de dissabores para contar ou para lembrar (minha memória é muito curta e vai apagando a intensidade de coisas que até sei que enfrentei).
A solidão bateu, a vontade de estar com as pessoas, de que elas estivessem comigo, de receber convites, de ser freqüentada, etc, etc, veio muitas vezes e muitas vezes veio forte. Lembro que no começo mais. Depois, fui fazendo elaborações e achando meu caminho, como já falei.
Além da sentença da médica, outras me deram respaldo. Minha mãe sempre nos disse: amigo é pai e mãe. Ela defendeu a vida toda que amigos se conhecem nas dificuldades e que, nestas, eles somem e se fazem conhecer assim, se tornando desconhecidos.
Nesse caso, interpreto isso, como ‘cada um no seu quadrado’, ‘cada um com seus pobrema’. Agora sem mágoa, com maturidade. Penso que seria assim diante de uma doença, de um problema grave. Se bem que já tive alguns problemas graves e só saí deles por causa desses mesmos amigos.
Então, vem a teoria do desconhecido, aquele com o qual as pessoas não sabem lidar. Talvez esse povo todo não tenha sabido e nem querido lidar com a ‘impostora’ porque passaram a vida sendo amigos de Waleska.
Eu também não sabia lidar com ela, mas não podia me dar a esse luxo. Nesse caso, só eu tinha a obrigação de saber lidar com a maternidade e com minha filha e não podia me fiar na minha inabilidade de lidar com.
Na travessia – que está só começando - ajudaram-me muitos. Esse amigo da primeira frase. Foi o que sempre apareceu, desde os primeiros dias de pós-parto, o que quebrou galhos, o que nos emocionou com sua presença incondicional. Fábio que, num aprendizado próprio também, de ser pai, marido, dono de casa, como eu, mãe, mulher, dona de casa, teve que achar seu novo norte ao nosso lado. Sim, por mais que ‘trabalhada’, a relação entre mãe e filha é bem intrínseca.
Ajudou-me Elizângela que, às terças e quintas, quando ia arrumar nossa casa, olhava a pequena, enquanto eu botava a cara no mundo, para me depilar, pintar a unha, cortar o cabelo, provar a calça que nunca cabia e nunca era comprada no comércio local.
Nossos familiares que moram aqui. Os familiares e amigos que moram fora daqui, viajei muito nesse tempo, estive muito com eles e senti seu amor e carinho por Morena, e estive com eles também pelo skype.
Ajudei-me eu mesma. Que, muito pelos conselhos de Vitória, botei o bloco Waleska e Morena via sling, na rua, fazendo programas próprios e ajudando a vida a seguir. Que busquei superar conflitos e solidões sem deixar mágoa para ninguém.
Ajudaram-me amigos virtuais como o grupo Ishtar e reais, como as mamães que viraram ‘brodis’, como Ju e Manu.
Enfim, escrevo esse texto para dizer que continuo achando a ‘mãe essencialmente uma solitária’ pelas diversas conotações que a frase tem. Mas que administrei minha carga de solidão e sei que ela não é maior agora. Ou é. Que ela é a mesma ou menor. Ou nenhuma. Depende do dia e da hora. Porque mais do que as mães, o ser humano é essencialmente solitário.
Para chegar a essa conclusão, ajudou-me o samba, o vinho, o amor, a música, a rua, a vida.
Ajuda-me a cada instante a presença de Morena em mim e na nossa vida e todo o universo lúdico/amoroso que ela instalou na nossa casa, no nosso coração para sempre.
A vida segue.
E é isso. Ema, ema, ema...

Ou não.

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