sexta-feira, 1 de abril de 2011

Mudando de assunto...




Vou falar do show que meu irmão Renan Barbosa idealizou, Os homens de Chico, que acontece aqui em São Paulo, para onde viemos,eu e Morena, ontem. A mala foi preparada na quarta-feira, conseguimos a façanha de ter apenas três volumes - a mala, o berço e a cadeirinha do carro. Trocamos o dia de Elisângela vir em casa e ela ficou com Morena enquanto eu preparava tudo. Operação de guerra que foi imprescinvível. Sem ela não teria conseguido chegar ao aeroporto a tempo, em carona com os padrinhos de Morena.
O voo, no entanto, foi um caótico da Gol - avião quebrado na pista por duas horas, sem ar-condicionado, eu passando mal, Morena suada, agoniada. Descemos para pegar outro avião, o que só aconteceu às 16h, o outro sairia às 11h44. Teve uma hora que sentei, sling, bebê, mochila, bolsa grande, echarpe e jaqueta a tiracolo e chorei, chorei, chorei no aeroporto de BsB. Na chegada, briga com o motorista de táxi que me encarou e perguntou como eu não tinha R$2,50. Eu já tinha pago no aeroporto, no cartão - venho fazendo isso para o mesmo trajeto, há 10 anos. Só ontem, um motorista resolveu me cobrar a parte o tal dinheiro que ele dizia se referir à bagagem. Foi confusão, resolvida pelo meu irmão, pois usei o argumento de que ele só estava me tratando daquele jeito porque eu era mulher.
Bom, correria danada depois que cheguei porque tinha compromisso, o show, às 21h e com o trânsito, com Morena para aprontar - para ficar em casa - quase desisti. Mas valeu ter ido. Nossa amiga, Renata, que ficou com Morena, sem leite, sem plano B, na cara e coragem, disse que quase me ligou pois ela chorou desesperadamente no começo. Depois, começou a olhar São Paulo da janela, se acalmou, soluçou e dormiu.
Que bom que foi assim, pois o show foi daqueles de lavar e perfumar a alma.
Aqui vai um texto sobre ele e fotos dos irmãos reunidos na Selva de Pedra. Vitória veio da Suíça só para o evento (chique a mulher), Raniere veio de Campina Grande, eu de Brasília, Robson mora aqui e Renan também, a estrela da noite.
Fábio está chegando aqui. Ia com ele hoje de novo. Mas a cuidadora de hoje deu o cano. Talvez não repita a dose.

A estréia do show “Os homens de Chico”

Na chegada, mesmo apressada, mesmo atrasada, deu tempo de perceber a descontração da arquitetura do lugar, feito que como para unir, reunir, religar. Foi como dar um tchau a alguém no trem que está saindo. Não dava para deixar de fazer, mesmo com o tempo exíguo.
Lá dentro, já sentada no auditório, foi em meio a uma atmosfera elegante, aconchegante, a uma penumbra onde se anteviam três cadeiras e duas fileiras de músicos ladeando-as, que surgiu a primeira voz. “Eis o malandro na praça outra vez...”
Era Renan Barbosa cantando as primeiras linhas da música que abria o show idealizado por ele, Os homens de Chico, em sua noite de estreia, no Sesc Pompeia, em São Paulo, nesta quinta-feira, 31 de março.
“Caminhando na ponta dos pés...” entra Fabio Cadore, dando continuidade à canção. “Como quem pisa nos corações”, surge Marcelo Quintanilha.
Os três ocupam seus lugares no palco, suas cadeiras, envergando elegantes ternos (assinados pelo estilista Ricardo Almeida) e bonitos chapéus, reafirmando o malandro brasileiro fincado no imaginário popular.
Ao fim do primeiro número, o trio já tinha deixado sua assinatura na obra, marcado seu estilo, definido a linha que seguiria, sem que isso significasse que deixaria de surpreender.
Não. A magia de uma nova forma de entoar uma nota, o ineditismo de um arranjo, o apuro de um gesto, a força de um olhar, a sutileza de uma sentença cantada, tudo isso permeou o show, cativou o público, que retribuía sempre, com gritos, palmas e que, ao final, se levantou para reverenciar os artistas.
Mas o final ainda demoraria. Por mais vinte músicas depois de A volta do malandro, Renan, Fábio e Marcelo, juntos, em duplas, individualmente, mostraram o repertório que buscou no Chico tão reconhecidamente uno ao feminino, figuras, sentimentos, personas masculinos.
Foram pródigos nos achados. O repertório trazia desde mais conhecidas como Construção, passando pelas crivadas pelo tom político como Acorda amor e Meu caro amigo, até as festivas como Feijoada completa. Presenteou o público com a marota e menos conhecida Juca.
Quintanilha, mais farto nos gestos, meio rapper, meio sambista, brincou, divertiu-se. Cadore com sua voz aveludada levou a música, em seus solos, para direções novas e inesperadas e isso foi muito bom, e Barbosa, mostrando brilhantismo em tom mais recatado e dramático, fez-se conhecer, notadamente nos solos.
As cadeiras continuaram sendo o encosto para interpretações que, por vezes, se aproximaram de encenações, perfeitas e bem colocadas, vale dizer, como em Mano a mano, promovidas pela direção cênica de Luis de Tolledo.
Unindo, sem jamais mostrar o mínimo sinal de desvio, esteve uma banda de atuação pungente. O trabalho do maestro Dino Barioni foi perfeito. Promoveu arranjos corajosos, para quem corria o risco de apenas fazer mais do mesmo, deu oportunidade a cada instrumento e, conseqüentemente, a cada músico, de se sobressair, com sutileza. Deu a chance para que juntos não gritassem, fizessem uma cama macia – dessas em que se quer pular alto – em que deitaram e rolaram as vozes dos cantores.
A percussão foi retumbante com seus tambores em Minha história. O piano silenciou a noite em Samba e amor, os sopros arejaram Samba do grande amor, o baixo acústico deu um tom que não podia ser outro em Valsinha, o violão fez sorrir suas cordas em Choro bandido, exemplos que estou só contando que é para lhe dar água na boca.
É daquelas ocasiões em que o menos é mais. Em que a cenografia de Valdy Lopes Jn fez suas cadeiras, ponto da marcação, se transformarem em tronos, em que o desenho e a operação de luz de Luis de Tolledo e equipe Sesc, respectivamente, viraram holofotes sem deixar de ser acertados focos. A sonorização de Francisco de Assis e técnicos do Sesc possibilitou que a noite soasse tão bem aos ouvidos.
É daquelas ocasiões em que a arte nos toma como o único remédio. Em que a gente quer compartilhar, dividir, recomendar, fazer com que todos os queridos tenham o mesmo deleite. Mas como disse uma pessoa da plateia, lá fora, ao final: “está esgotado para as próximas sessões”.
Resta o desejo para que outras casas, outras pessoas, outras cidades ofereçam a todos, sem distinção de gênero, Os homens de Chico.

Créditos
Renato Rocha - fotos do show
Arquivo de família - as demais

P.S.Repeti a dose. Meu irmão Raniere ficou com Morena. E a segunda dose só ratificou o sucesso retumbante da estreia. Viva!!! Bravo!!





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