terça-feira, 20 de agosto de 2013

Sobre o aprender sempre. A educar. A educar-se

Posso dizer que minha filha de três anos nunca mordeu ninguém. Talvez tenha dado uns empurrões ou puxado uns brinquedos. Mesmo assim acho que mais a partir de quando passou a conviver com situações assim do que por impulsos ou necessidades próprias. Por imitação, penso, mesmo sabendo que isso pode ser coisa de mãe com olhos mais benevolentes do que deveriam. Nunca a induzi a reagir. A bater para não levar. Ao contrário. Sempre a induzi a entender o que fez o outro (até agora nunca mais velho do que quatro anos), a desculpar, isso considerando que haverá um pedido de desculpas (o que nem sempre acontece), a dizer que não se pode fazer isso e o que o legal é ‘carinho’. Não sei se isso está certo ou errado. Penso se não ensino passividade. Posso também estar ensinando pacificidade. Prefiro. Também não tenho certeza se essas coisas são ensinadas. Tanto no sentido de serem feitas como no de serem evitadas. Ou se partem da personalidade de cada um, contrariando quaisquer lições de amor ao próximo. A parte que menos gosto – a partir do momento em ainda que bebês, os pequenos passam a interagir mais – é intervir em momentos potencialmente tensos. Às vezes, tento fazê-lo antes de algumas reações dos pais. Esses sempre mais ferozes e com capacidade e disponibilidade de morder, empurrar e puxar brinquedos – só com palavras e olhares – muito maior do que as crianças. E geralmente dirigidas ao filho alheio. Fui aprendendo com a prática, com a literatura, com conselhos, a ficar mais leve nessas horas. Mas faço também o que acho certo. Dia desses, numa festa infantil, vi de longe a minha pequena forçando um brinquedo da mão de outra bem menor. Fui lá porque não achei certo que ela fizesse isso. Fui lá com medo da mãe da outra bem menor. E ela disse, meio brusca: “Ela não fez isso. Fica fria”. E saiu levando a filha, com medo de que fosse contagioso o meu comportamento tão bélico – essa foi minha interpretação. Mas eu tinha visto o que tinha acontecido, sabia que a minha tinha feito aquilo, sim, e, para mim, ela quis passar a ideia de mãe muito ‘cabeça’, coisa que efetivamente não foi, ao afastar-se de nós e a tentar apagar algo que fora real. Embora possa não ter tido a gravidade com que enxerguei, já na minha visão preventiva das coisas. Hoje, evito, conscientemente, parquinhos e afins. Missões que meu marido encarna melhor que eu, pois ou não está tão atento a essas sutilezas, ou não as enxergaria ou tem outra forma de lidar com elas. A minha pequena chora com dor profunda quando essas coisas acontecem. Assusta-se. Sinto, sem saber se novamente invento, que é algo mais que a dor física. É um sentimento de traição que a invade. Como assim, receber uma mordida se estava brincando, se nunca fiz isso, etc... Sei que talvez não elabore tanto assim. Mas o jeito com que chora me faz pensar isso. Eu tento aplacar a dor dela e desejo que os cuidadores da segunda criança façam algo também, ou seja, procuro não reparar o comportamento da segunda miúda envolvida. Mas percebo que sempre mando um recado. – Filha, diz a ela que não pode. Diz pra ela pedir desculpas. Coisas assim. A isso, uma mãe respondeu à minha filha: - Diz a ela que você não gostou. E eu gostei dessa abordagem. É melhor pensar em si, do que apontar algo para o outro. É melhor aprender a se colocar a partir do que ocorre internamente, do que ignorar isso, atento apenas ao outro. Não sei se isso foi fruto de alguma percepção de que essa forma seja mais construtiva para uma criança, ou se foi acaso. Como a mãe em questão é uma pessoa muito especial e está sempre em busca do autoconhecimento, aposto que é a primeira opção. Mesmo se não for, me ensinou. Eu aprendi. A fazer esse direcionamento para a capacidade de falar com o outro, dizer o que sente, ser sincera. Acho, e mais uma vez não sei se estou inventando, que é uma forma de aprender a não engolir sapo, a ter uma resposta rápida, não uma que fira, mas que reflita uma verdade própria. São coisas que me fazem falta. E daquelas coisas que a gente quer que sejam diferentes com nossos filhos. Tomara que eu esteja no caminho certo...

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